Grande mestre Sotessan
"Ser no nada e em ser o nada
Vão mudando e, ao fim de tudo,
E esvazia o ser e o nada,
E o vazio enche, contudo."
- Sotessan
Park Chung-bin (1891-1943), mais conhecido como Sotessan, nasceu em 5 de maio de 1891, na Coreia. Desde muito jovem, Sotessan iniciou sua busca para entender os princípios fundamentais do universo e da vida humana. Ao olhar para o céu, ele se perguntava: “Como o céu pode ser tão alto e amplo? Como nuvens e tempestades podem surgir de um céu tão claro?” Sotessan questionava tudo o que encontrava em sua vida na época, incluindo sua própria existência. Até mesmo seus familiares — pais, irmãos e irmãs — serviam como modelos para suas questões espirituais. Quanto mais se aprofundava nessas perguntas, mais Sotessan se comprometia a encontrar respostas.
Aos onze anos, Sotessan ouviu falar de uma lenda popular coreana sobre um espírito da montanha que tudo sabia. Ele pensou que, se encontrasse esse espírito, teria as respostas para todas as suas perguntas. Conta-se que Sotessan frequentemente caminhava quatro quilômetros de sua casa até as montanhas para orar ao espírito, mas, apesar de sua dedicação incansável, ele nunca apareceu.
Aos dezesseis anos, Sotessan se inspirou em uma história sobre um homem que teve seus desejos realizados após encontrar um mestre iluminado. Ele então abandonou sua busca pelo espírito da montanha e passou a procurar um mestre espiritual. Sempre que via um estranho ou um mendigo, ele os testava. Às vezes, chegava a convidá-los para sua casa para ver se poderiam ser um mestre disfarçado.
A busca de Sotessan por um guia espiritual chegou ao fim quando seu pai, grande incentivador de sua jornada, faleceu em 1910. Esse foi um ponto de virada em sua vida. Tornando-se o chefe da família, esperava-se que ele assumisse a responsabilidade de sustentar todos.
Quando desistiu de encontrar um mestre, sua busca interior teria começado com um único pensamento: “O que devo fazer?” Ele refletiu sobre essa pergunta por anos, do amanhecer ao anoitecer. Então, um dia, essa preocupação única e consumidora desapareceu, e Sotessan entrou em um estado profundo de samadhi (consciência meditativa). Durante essa prática ascética, diz-se que ele permanecia em grande serenidade, mesmo enquanto sua saúde se deteriorava e manchas estranhas apareciam por todo seu corpo. Seus vizinhos e familiares ficaram preocupados, chegando a considerá-lo um cadáver vivo.
Em 28 de abril de 1916, ao amanhecer, sua mente e coração se abriram, e todas as suas perguntas anteriores foram resolvidas com perfeita clareza. Aos 26 anos, diz-se que Sotessan despertou para a verdade.
Cheio de energia, pediu aos vizinhos os principais textos do confucionismo, budismo, taoismo e cristianismo para estudá-los. Após extensa leitura, afirmou: “Aquilo que eu conheci já era conhecido pelos antigos sábios.” E continuou: “Shakyamuni Buda é verdadeiramente o sábio dos sábios. Embora eu tenha despertado sem orientação de nenhum mestre, percebo que muitas coisas coincidem com as palavras do Buda. Tomarei o buddhadharma como o princípio central do meu ensinamento.”
No entanto, após refletir sobre o budismo e as necessidades sociais da época, Sotessan sentiu que o buddhadharma precisava ser reestruturado para ser acessível e prático no mundo moderno.
Muitas pessoas começaram a se reunir para ouvir os ensinamentos de Sotessan, passando a considerá-lo um buda vivo. Segundo relatos, a primeira coisa que ele ensinou a seus discípulos foi “diligência e economia” para ajudar os camponeses pobres a criarem uma associação de poupança. Isso pode parecer um ensinamento espiritual estranho a princípio, mas o Won Budismo se preocupa com a aplicação prática da busca espiritual desde sua fundação. Vivemos no mundo, então o caminho espiritual deve considerar essa realidade. Quando fundos suficientes foram acumulados, ele e nove discípulos centrais começaram a construir uma barragem em terras de maré em Kilyongri, transformando-as em campos de arroz. Eles converteram o aterro lamacento em dez hectares de terra fertilizada, criando a base econômica da Ordem Won Budista.
A intenção de Sotessan era ensinar seus discípulos a fortalecer a base econômica da comunidade local. Ele queria que entendessem que mente e corpo não são separados, e que as pessoas devem pensar não apenas em seu próprio bem-estar, mas no bem-estar das famílias, comunidades e do mundo.
Confirmação do darma pela impressão digital de sangue (1919)
Em seguida, Sotessan orientou seus nove discípulos a fazerem uma oração pela salvação de todos os seres. Em 21 de agosto de 1919, quando os nove discípulos pressionaram seus polegares nus sobre uma folha de papel branco, onde estava escrito “Sacrifício sem arrependimento”, diz-se que nove impressões digitais apareceram em sangue. Esse evento ficou conhecido como o Milagre do Selo de Sangue no Papel Branco, sendo considerado o fundamento espiritual do Won Budismo.
À medida que a comunidade crescia, Sotessan decidiu, em 1924, estabelecer a sede geral em Iksan, Coreia do Sul, um local acessível de todas as direções do país e amplo o suficiente para acomodar as necessidades da comunidade. No mesmo ano, ele e seus discípulos realizaram a primeira assembleia geral para a fundação da Sociedade de Pesquisa do Buddhadharma, nome da comunidade até o Segundo Mestre Dharma, Chongsan, renomeá-la em 1947 como Won Budismo.
Essa comunidade foi desenvolvida com base na visão de Sotessan de tornar o buddhadharma prático, útil e benéfico para todos os seres sencientes, permitindo que todos os praticantes alcancem o despertar em sua vida diária.
Em 1º de junho de 1943, após vinte e oito anos de divulgação do darma, Sotaesan faleceu em Iksan, Coreia.
Três anos antes de entrar no Nirvana, ele apresentou ao público (e não apenas a alguns escolhidos) este verso de transmissão do darma: "Ser no não-ser e não-ser no ser, Girando e girando — no Último, ser e não-ser são ambos vazio, porém esse vazio também é completo." Antes de sua morte, Sotaesan editou o Chongjon, o Livro Principal do Won Budismo.